Carnaval da Saudade: "Ala Ursa quer dinheiro quem não dá é pirangueiro"
"Desde a barriga da minha mãe eu ouvia os instrumentos. Cresci com isso e tá no sangue!"
Vítor César Silva, 24 anos, cresceu entre os batuques dos tambores do carnaval de rua na Paraíba. O jovem faz parte de um dos grupos culturais que guia um urso polar gigante, pedindo dinheiro pelas ruas quentes do bairro do Rangel. A tradição secular tem origem europeia e também faz parte do folclore popular brasileiro. Porém, neste ano, a festa não será completa, os desfiles no carnaval foram cancelados por causa da pandemia da Covid-19.
A Avenida Duarte da Silveira, no Centro de João Pessoa, ficará silenciada e os carnavalescos precisarão esperar para o ano que vem.
"Essa saudade nos motiva fazer um próximo carnaval extraordinário!"
O jovem, que já vestiu a fantasia do urso, atualmente faz parte da vice-presidência do Urso Amigo Batucada, grupo sociocultural da comunidade onde vive. O Ala Ursa é atração do bairro no período carnavalesco e instrumento de transformação para crianças e adolescentes durante todo o ano.
O grupo com cerca de 80 pessoas já conquistou cinco vezes o título de campeão no Carnaval Tradição. Subir ao pódio é a mudança da realidade.
Na localidade onde a criminalidade e a violência são consequência do tráfico de drogas, o batuque precisa soar mais alto. "Já perdemos muitas pessoas por causa da criminalidade. Quando chega uma criança querendo tocar, fazamos de tudo para acolhê-la", disse.
O Urso - A roupa com 30 quilos é dividida em três partes, entre a cabeça, que é feita com papelão e costurada com centenas de fios, feitos de sacos de estopa, uma camisa e uma calça. Mikeias das Neves, 20 anos, veste a fantasia há quatro anos e sabe a recompensa. "'É uma energia muito top. Dá pra perceber a felicidade no olhar", contou.
Desfiles
Na semana do carnaval, cerca de 20 alegorias desfilam no Carnaval Tradição, evento realizado há cem anos, na Paraíba. Uma premiação em dinheiro é destinada para os três primeiros colocados indicados pelo júri. Pentacampeão, o grupo do bairro do Rangel reverte a verba recebida para manutenção de instrumentos, confecção de roupas e projetos sociais durante os meses de preparação dos próximos carnavais.
Além do urso, as alegorias também têm integrantes que participam desde a preparação dos figurinos, standards e a percussão, que animam a avenida.
A comunidade mobilizada agora espera a pandemia passar, para desfilar na avenida. Enquanto isso, eles se divertem entre as recordações e os ensaios. Veja no vídeo:
Nenhum comentário